Resenha #603: Cartas Para Martin - Nic Stone (Intrínseca)

Título: Cartas Para Martin
Título Original: Dear Martin
Autor: Nic Stone
Série: Dear Martin #1
Páginas: 256
Ano: 2020
Editora: Intrínseca
Sinopse: Justyce McAllister é um garoto de dezessete anos com um futuro brilhante pela frente. É um dos melhores alunos de uma prestigiada escola de Atlanta, tem uma mãe amorosa e um melhor amigo incrível. No entanto, um episódio de violência policial traz à tona que a distância entre ele e seu futuro é quase um abismo. Porque Justyce McAllister é negro, e isso significa que, muitas vezes, é julgado pela cor de sua pele.
Ao ser agredido e detido injustamente, o olhar de Justyce desperta para um novo mundo, um lugar solitário em uma sociedade que insiste em vê-lo como ameaça ou como promessa de fracasso. Ele se dá conta, então, de que não pode mais fingir que não tem nada errado e decide iniciar um projeto: escrever cartas para Martin Luther King Jr., um dos mais importantes ativistas políticos pelos direitos dos negros, símbolo da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, morto em 1968.
Ao tentar aplicar os ensinamentos de Luther King em sua vida, Justyce começa a trilhar um caminho para entender não só como deve reagir diante das injustiças, mas que tipo de pessoa ele quer ser. Em meio a questões familiares, desentendimentos com os amigos e complicações da vida amorosa, nas cartas ele expõe suas dúvidas, sua angústia, sua revolta e a percepção clara de que a sociedade não é tão igualitária quanto deveria.
No livro de estreia de Nic Stone, vemos Justyce passar pelos desafios da adolescência, amadurecer e encarar o racismo que tanto afeta sua existência. Comovente e extremamente necessário, Cartas para Martin é um relato sobre ser um jovem negro e sobre o direito inalienável de existir. Um livro impossível de ignorar.

Cartas Para Martin é um livro que eu tinha duas certezas: que seria muito bom e que me deixaria num estado de raiva. Pois fui muito bem servida nesses dois quesitos.

Indignação e revolta são os sentimentos que prevalecem nesse livro. A história já abre com a situação descrita na sinopse: Justyce sendo preso injustamente. A partir daí é uma avalanche de acontecimentos que você percebe que acontece todo santo dia nessa sociedade maldita. Eu passei todo o livro lembrando da situação de George Floyd, João Pedro Mattos e muitos outros negros que foram vítimas da crueldade policial baseada no racismo e me questionando como que raios uma sociedade dita evoluída ainda tem conceitos tão absurdos.

A narração é feita em terceira pessoa, focada em Justyce. Mesmo de uma maneira "informal" você consegue ver os sentimentos conflitantes no adolescente; ao longo do livro, Justyce sente medo, vergonha, indignação, revolta... Nas suas cartas para Martin, também vemos o quanto ele também está perdido depois do incidente. Afinal, para que se esforçar a ser diferente se ele nunca vai ser visto além da cor da sua pele?

Os personagens secundários também são bem trabalhados. Sarah-Jane "SJ" é praticamente a boia que impede Justyce de afundar, sempre lutando e jogando a verdade na cara de quem quer que seja. Doc é aquela figura adulta exemplo de como todo adulto deveria se importar e incentivar os jovens com quem convive. São nos colegas de classe de Justyce que vemos a questão do racismo velado, atitudes e pensamentos racistas "normalizados" na sociedade.

Nic não poupa nas palavras, principalmente nos momentos mais tensos da narrativa. Mas, como estava falando com meu amigo Emerson (@umnerdleitor), a autora não vilaniza ninguém. Ela expões as atitudes de cada um e como toda a situação do Justyce fez a verdadeira face das pessoas aparecerem. Porém, há uma situação bastante destruidora um pouco depois da metade do livro que mostra que as pessoas são sim capaz de mudarem seus pensamentos e, principalmente, reavaliar seus privilégios na sociedade.

De certa forma, Cartas Para Martin termina com algumas pontas abertas, o que creio que serão exploradas em sua continuação, Dear Justyce. Esse ainda está sem previsão de lançamento aqui no Brasil e foi lançado no mês de outubro internacionalmente. Tenho esperanças que a Intrínseca o lançará em breve.