Resenha #607: Filhos De Sangue E Osso - Tomi Adeyemi (Fantástica Rocco)

Título: Filhos de Sangue e Osso
Título Original: Children of Blood and Bone
Autor: Tomi Adeyemi
Série: Children of Orïsha #1
Páginas: 550
Ano: 2018
Editora: Rocco (Selo Fantástica Rocco)
Sinopse: Zélie Adebola se lembra de quando o solo de Orïsha vibrava com a magia. Queimadores geravam chamas. Mareadores formavam ondas, e a mãe de Zélie, ceifadora, invocava almas. Mas tudo mudou quando a magia desapareceu. Por ordens de um rei cruel, os maji viraram alvo e foram mortos, deixando Zélie sem a mãe e as pessoas sem esperança. Agora Zélie tem uma chance de trazer a magia de volta e atacar a monarquia.
Com a ajuda de uma princesa fugitiva, Zélie deve despistar e se livrar do príncipe, que está determinado a erradicar a magia de uma vez por todas. O perigo espreita em Orïsha, onde leopanários-das-neves rondam e espíritos vingativos aguardam nas águas. Apesar disso, a maior ameaça para Zélie pode ser ela mesma, enquanto se esforça para controlar seus poderes — e seu coração.

Envolvente, sufocante e extremamente importante, Filhos de Sangue e Osso, primeiro volume da série Legados de Orisha, escrita por Tomi Adeyemi é uma fantasia diferente e rica, que aborda não só uma cultura fantástica como também levanta questões sociais intermináveis.

Zélie Adebola lembra-se com clareza de quando o solo de Orisha emanava magia por todos os lados e seu povo era feliz. Mas tudo isso muda quando a tirania de um rei ceifa a mágica de seu mundo e assassina friamente todos como ela, incluindo sua mãe. Agora, marcada por uma infância cheia de perdas e incertezas, tudo o que Zélie quer é proteger os poucos familiares que lhe restam. E sua chance pode estar em um misterioso ritual que pode devolver a magia para seu povo e fornecer a chance de revidar contra a opressão sofrida a tantos anos. Mas o perigo espreita em cada novo lugar, e sua maior ameaça pode ser ela mesma.

Começo essa resenha expressando o quão temeroso eu adentrei a esse universo. Tinha visto tantas resenhas negativas, frisando o quão suas protagonistas eram desagradáveis que não tinha muita certeza do que encontraria aqui. Eis-me encantado por cada detalhe que li nessa trama. A narrativa de Adeyemi não só é rica em detalhes, como fluí com uma facilidade indescritível, seja em suas cenas asfixiantes de ação ou no drama denso e intenso de seus personagens. Tudo tem um peso muito grande e as analogias sobre um povo brutalizado por ter a cor de sua pele diferente ficam claras em cada página.


Narrado em primeira pessoa, a obra divide seus capítulos entre três protagonistas: Zélie, Amari e Inan, e esse é um dos pontos que me fizeram amar ainda mais cada minuto dessa leitura. Em momento algum a trama me pareceu cansativa ou tediosa. A dinâmica dos personagens é muito boa e você mergulha profundamente em cada um, conhecendo-os de perto. Adeyemi também utiliza desse artificio para estreitar os laços entre eles, deixando muito mais claro a forte relação que um possui com o outro.

Amari é definitivamente minha personagem favorita. Em muito sua construção pode parecer clichê para quem já costuma ler o gênero, mas ainda assim, a maneira como ela ganha um destaque dentro do enredo, saindo de uma presença tímida e retraída para uma voz potente na obra me encantaram. É o tipo de jornada do herói que me cativa com facilidade.

Mas é inegável que o destaque desse volume fica com Zélie. Além de ser a peça central desta trama, sua história é muito real, intensa, e é fácil demais construir um vínculo afetivo com ela. Mesmo em suas decisões impulsivas, eu não conseguia discordar, fosse pela lógica de sua reação levando em consideração todo o background que a autora traz sobre seu passado, fosse pela verossimilhança da inexperiência muito clara devido a sua pouca idade. Estamos lidando com personagens adolescentes, e não adultos, para exigir maturidade.

Inan, o terceiro narrador, a mim permanece uma incógnita. Não sei ainda o que esperar de seu personagem e não consigo descrever meu misto de sentimentos com ele: ora pendente para o afeto, ora para o ódio. E essa mescla talvez seja a intensão da autora afinal, já que o personagem transita com facilidade de anti-herói a antagonista. Há momentos de empatia por sua dor e há momentos de revolta total. E embora sua relação com Zélie tenha sido um ponto que não me agradou devido a maneira abrupta como acontece, ainda assim, é um detalhe tão pequeno em meio ao mar de outras problemáticas mais importantes que sinceramente, em momento algum isso foi um empecilho para mim durante a leitura.

Tzain também tem uma participação importante, embora não tão grandiosa quanto os outros três. O pouco que conheci dele me agradou e não vou negar que gostaria de ver mais de sua voz na trama em um próximo volume, não só para conhecê-lo melhor, mas também para ter uma participação mais efetiva dele no enredo.

A história reserva muito de seu tempo para frisar o quão dolorosa é a realidade dessas pessoas dentro desse sistema escravocrata e brutal que banaliza suas vidas, tornando-as descartáveis. E Adeyemi não só critica o abuso físico e psicológico, mas também a tirania religiosa, apagando as crenças do povo dominado e estabelecendo a religião do dominador como única realmente correta.

Enfim, Filhos de Sangue e Osso é uma experiência muito mais intensa do que uma mera resenha pode descrever e eu estou completamente apaixonado por cada detalhe desse mundo. Com cenas de ação que tiram seu fôlego, personagens representativos e bem desenvolvidos, Tomi Adeyemi encerra esse primeiro livro com um gancho gritante que vai te deixar desesperado por uma continuação.

Resenha por Emerson Andrade (@umnerdleitor)

4 Comentários

  1. Oi, Emerson! Tudo bom?
    Eu gostei MUITO desse universo e do desenvolvimento do livro, com exceção do final que foi ex machina demais pro meu gosto - e do Inan. Pai amado como eu não suportei esse cara. Chato pros infernos, indeciso dos infernos, espero que desapareça no próximo!!!!!!
    Se a Tomi deixasse a Zélie com a Amari nada disso estaria acontecendo... Um ship muito melhor e mais interessante.

    Beijos, Nizz.
    www.queriaestarlendo.com.br

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  2. Oi Emerson, ficou bem claro seu carinho pela obra rsrsrs É muito bom quando a gente encontra histórias que nos envolva assim!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Ei, Emerson, tudo jóia? Esse livro já se encontra na minha lista de leituras e pretendo o ler em breve. Mas eu vi bastantes resenhas positivas sobre ele. Livros geralmente são assim, surpreendentes, tanto para positivo quando para negativo. Mas que bom que você aproveitou a leitura e gostou do livro, apesar das ressalvas!


    Books House

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  4. Parece realmente intenso e surpreendente! Gostei da forma como ele contou a história e me conduziu a partir dos detalhes ;)

    beijos

    https://ludantasmusica.blogspot.com/

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