Resenha #629: A Menina Na Torre - Katherine Arden (Fabrica 231)

Título: A Menina na Torre
Título Original: The Girl in the Tower
Autor: Katherine Arden
Série: Winternight #2
Páginas: 336
Ano: 2019
Editora: Rocco (Selo Fábrica231)
Sinopse: Para a jovem Vasya, os seres mágicos são tão reais quanto os seres vivos que transitam em seu mundo gelado e medieval, Rus’, parte do amplo território que mais tarde será conhecido como Rússia. Por ser uma das raras pessoas que conseguem enxergar o que é invisível para a maioria, ela é obrigada a fugir de casa, para longe da intolerância e das acusações de bruxaria feitas por sua gente. Katherine Arden retorna aqui ao mesmo universo encantador e desafiador de O Urso e O Rouxinol, o limite das terras selvagens russas onde o inverno parece ser eterno e as criaturas míticas dotadas de poderes mágicos interferem continuamente nos assuntos humanos.
Sufocada pelas únicas opções possíveis a uma mulher daqueles tempos, casar ou viver em um convento, a jovem Vasya decide viajar pelo mundo, desafiando sua família e os conselhos nem sempre confiáveis de um aliado sobrenatural, o poderoso Rei do Inverno. Mal sua jornada se inicia e uma sangrenta rede de intrigas a envolve, tecida pela nobreza moscovita, pelos gananciosos inimigos tártaros e, agindo nas sombras, por uma magia perigosa que esconde segredos do passado.
Vasya ainda precisa resolver o complicado relacionamento com seus irmãos, lidar com o sedutor Kasyan, descobrir a identidade do misterioso fantasma da torre e, claro, decifrar os sentimentos que a unem a Morozko. Disfarçando-se de homem para sobreviver, pela primeira vez a jovem experimenta a liberdade, o reconhecimento por seus atos heroicos e as várias possibilidades de futuro numa sociedade que aprisiona em casa as mulheres de famílias ricas. Uma escolha que poderá trazer consequências desastrosas para as pessoas que ela ama e ainda lhe custar a própria vida.
Nesta sequência de O urso e o rouxinol, a autora Katherine Arden retoma o vasto universo dos contos de fadas russos com seus pássaros de fogo, espíritos domésticos que zelam pelos lares, ameaçadoras criaturas mágicas que vagam pelas florestas e tantos outros seres fascinantes que habitam a nossa imaginação, encantando o leitor da primeira à última página.

ATENÇÃO! Se você não leu os livros e/ou resenhas anteriores, pode conter spoiler

O Urso e O Rouxinol foi uma leitura que muito me surpreendeu em 2020. Por isso estava bem ansiosa por A Menina na Torre e não me arrependi.

Nessa continuação, Vasya quer conhecer o mundo além da sua pequena vila. Disfarçada de menino, ela e seu cavalo companheiro Solovey saem em busca de novas aventuras. Mas não será muito fácil para ela manter seu disfarce quando, em uma de suas viagens, ela acaba reencontrando seu irmão Sasha e o príncipe Dimitrii.

Vasya continua a mesma jovem corajosa e determinada. Agora, disfarçada de homem, pela primeira vez na vida ela sente uma liberdade para fazer o que quiser e isso faz com que ela tome algumas decisões um tanto imaturas. Em algumas situações estava na cara que o resultado poderia dar muito ruim para ela, mas foram importantes para que ela pudesse amadurecer. Pra mim, todas as decisões impulsivas da personagem condizem com sua personalidade e a vontade de aproveitar essa nova liberdade.

O cenário aqui é a Moscou feudal, que está sendo comemorado um festival. As descrições da cidade são bastante imersivas e passam longe de serem cansativas. Gostei bastante dessa mudança de cenário, já que dá pra perceber o contraste da cidade com a pequena vila que Vasya cresceu. 

Nesse livro, Katherine dá foco para a relação de Vasya com os irmãos Olga e Sasha. Ambos fizeram participações relevantes no livro anterior, mas logo foram tirados de cena visto que Olga se casa e muda para Moscou e Sasha vira padre.

A relação entre os três é bem conturbada. Olga é a representação de tudo que Vasya foge: uma mulher casada sem voz e atada na vontade do marido. Ao longo do livro, vemos que Olga tem suas próprias batalhas diárias em seu terem e fará de tudo para proteger sua família, principalmente sua filha Marya. As duas batem muito de frente por seus pensamentos serem diferentes, mas ao mesmo tempo admiram a força e garra uma da outra.

Sasha, agora padre Aleksandr Peresvet, se vê dividido entre ser cúmplice de Vasya em sua mentira e a lealdade que ele possui com Dimitrii. Apesar de ter sido em pouca quantidade, gostei das interações entre o padre e o príncipe mostrando o vínculo de amizade, lealdade e confiança que há entre os dois. Nos leva a entender bem a situação que Sasha se encontra. E, diferente de Konstantin, Sasha é um padre consciente de que nem tudo pode ser justificado através da religião e fé.

Aqui também começamos a entender melhor a relação de Vasya com Morozko. O Rei do Inverno tem um pouco mais de destaque e desenvolvimento. Apesar do conflito de seus sentimentos por Vasya e o que isso implica em sua vida, a preocupação de Morozko com Vasya é verdadeira. Sim, há um início de romance entre os dois, aparecendo nos momentos certos e também bem desenvolvido dentro do que já foi apresentado na relação dos dois. 

Kasyan é um personagem novo e que se destaca desde sua primeira aparição. Seu interesse em Vasya deixa a garota bastante desconfiada e eu também. Já o seboso do padre Konstantin também sua participação na história com sua contínua obsessão por Vasya. Entre esses dois, a cada momento eu temia pela vida e bem estar da moça.

A reta final aqui é bem mais eletrizante que a do livro anterior, com muitas reviravoltas e revelações de cair o queixo. E, assim como o anterior, ele tem seu final um tanto de fechado, mas que deixa pontas para o final em O Inverno da Bruxa.

A Menina da Torre foi uma continuação que superou minhas expectativas. Misturando assuntos importantes como privilégio masculino e o papel da mulher na sociedade com magia, com certeza essa trilogia já está entre as minhas queridas e surpreendentes. Ao mesmo tempo que quero conferir O Inverno da Bruxa, não quero me despedir de Vasya e seu universo fantástico.

Resenhas anteriores

Livro 1 - O Urso e O Rouxinol (The Bear and The Nightingale)