Resenha #650: Filhos De Virtude E Vingança - Tomi Adeyemi (Fantástica Rocco)

Título: Filhos de Virtude e Vingança
Título Original: Children of Virtue and Vengeance
Autor: Tomi Adeyemi
Série: Children of Orïsha #2
Páginas: 432
Ano: 2020
Editora: Rocco (Selo Fantástica Rocco)
Sinopse: Filhos de Virtude e Vingança é a continuação de Filhos de Sangue e Osso, primeiro livro da trilogia de fantasia O Legado de Orïsha, escrita por Tomi Adeyemi, que é baseada na cultura iorubá.
No segundo volume da série, depois de enfrentar o impossível, Zélie e Amari conseguiram trazer a magia de volta para Orïsha. Entretanto, o ritual foi mais poderoso do que elas imaginaram e os poderes reapareceram não somente para os maji, mas também para todos que tinham ancestrais mágicos. Agora, Zélie se esforça para unir todos os maji em uma Orïsha onde o inimigo é tão poderoso quanto eles.
Quando a realeza e os militares formam uma aliança perigosa, Zélie precisa lutar para garantir o direito de Amari ao trono e proteger os novos maji da ira da monarquia. Com uma guerra civil iminente, Zélie tem uma missão: encontrar uma forma de unir o reino ou assistir a Orïsha ruir.

ATENÇÃO! Se você não leu os livros e/ou resenhas anteriores, pode conter spoiler

Falar sobre os livros da Tomi Adeyemi são sempre um misto de felicidade de tristeza. Em Filhos de Virtude e Vingança essa mescla continua, muito mais presente em uma trama que reforçar a brutalidade de um povo em suas entrelinhas enquanto narra uma jornada rica e culturalmente inesquecível.

Zelie nunca imaginou que precisaria sacrificar tanto para realizar o ritual que traria a magia novamente para seu mundo, mas aconteceu, e infelizmente a guerra está ainda mais longe de acabar. Enquanto as consequências de suas atitudes se espalham pelo reino, iniciando uma nova e feroz batalha contra a monarquia, Zélie tenta a todo custo impedir o derramamento de sangue e aumentar suas perdas, mesmo que Amari esteja determinada a tomar o trono para si. Seriam elas capazes de romper o ciclo de violência que cerca seu lar?

Dividido sob o ponto de vista de diferentes narradores, esse livro começa exatamente aonde o primeiro terminou, já jogando o leitor em um clima tenso e triste de perda e esse é o ponto que mais gostei. Não só porque eu sinto realmente que a história realmente se complementa, como também para aprofundar mais a relação dos personagens e determinar seus novos traumas. Tanto Zelie quanto Amari estão cheias de cicatrizes e isso vai influenciar muito nas decisões que elas tomam daqui em diante. Fato que nos leva a cenas e mais cenas de ação desenfreada em um combate mais eletrizante do que o outro. Adeyemi não dá um minuto de paz, cada pedaço dessa obra está recheado de reviravoltas instigantes e batalhas grandiosas.


Infelizmente, diferente dos volumes anteriores, esse mesmo fato que faz com que cada página se torne muito mais fluída e contagiante, também prejudica determinadas situações. O principal problema dessa continuação se resumo justamente na forma apressada com que certas coisas acontecendo, sem aprofundar ou explicar muito. Eu senti ao longo da leitura que a autora tinha mais a dizer, mas por algum motivo ela deixou lacunas. Aparentemente parece que Adeyemi tinha planos de escrever mais para esse segundo, mas a editora apressou o prazo de entregar do livro e por isso ela acabou tendo que fazer um recorte, o que prejudica um pouco o enredo no geral, não só pela falta de contextualização de determinados pontos, como também o mal aprofundamento dos novos personagens.

Outro fator que me fez pesar a leitura foram as atitudes das personagens, principalmente a Zelie. Embora eu goste muito dela e ao longo do livro você perceba que ela está amadurecendo (afinal vale lembrar que todos os membros desse elenco aqui são adolescentes, logo certas decisões fazem total sentido quando colocamos em check sua idade) ainda assim, não deixou de me incomodar a forma como em determinados momentos ela parecia diminuir a dor do outro para provar que a sua era maior. Não conseguia enxergar uma relação minimamente de amizade entre ela e a Amari, mesmo depois de ter visto o tanto de coisas que as duas passaram no primeiro livro. Inclusive, confiança é um ponto que nem mesmo Zelie demonstra na garota, e isso me irritou.

Essa falta de apoio e a pouca voz frente aos majis, leva Amari a tomar decisões cada vez mais descabidas, transformando seu objetivo de se tornar rainha e unificar seu reino em uma espécie de objeção. Eu nem consigo contabilizar o número de vezes que eu quis sacudir ela e pedi para pensar um pouco fora da caixinha. Parecia um ciclo onde uma sempre errava quando a outra acertava.

Por outro lado, Inan acabou sendo meu destaque nesse segundo momento da história. A construção do personagem tão odiado por todos e para mim, tão complexo, foi impressionante e doloroso. É evidente o quanto o sistema desse mundo transforma todos em vítimas e ao mesmo tempo em culpados e isso se reflete com muita clareza quando vemos a jornada desse personagem. Em diversos momentos você nota que ele quer quebrar essa roda, mas mesmo assim, não consegue, seja por fatores externos ou internos. E eu amo essa dualidade. Transmite um ar muito mais humano a todos.

Inclusive, essa é uma série onde é difícil distinguir heróis e vilões, e eu pessoalmente acredito que não temos. Tentar rotular pode inclusive fazer você ter uma experiência ainda mais diferente com a trama. Todos os personagens estão com as mãos sujas de sangue e ambos os lados dessa moeda estão certos e errados em um certo ponto. Como romper esse círculo vicioso? Eis a questão! Esse pensamento inclusive me faz refletir que apesar das atitudes de Zelie e Amari me irritarem, eu ainda assim não conseguia nutrir qualquer sentimento negativo sobre elas. No fim elas são humanas, erram e acertam, assim como Inan e os tantos outros personagens. Vítimas de um sistema brutal que segrega as pessoas pela cor de sua pele, estabelecendo privilégios para uns e desigualdade para outros.

Enfim, Filhos de Virtude e Vingança foi uma experiência diferente do que eu esperava, mas não menos envolvente do que o primeiro. Essa é uma obra brutal e extremamente sofrida que prende o leitor desde a primeira página. Que rumos Adeyemi dará para seus personagens? Não sei, mas o final vai devastar todos, isso é certeza.

Resenha por Emerson Andrade (@umnerdleitor)


Resenhas anteriores
Livro 1 - Filhos de Sangue e Osso (Children of Blood and Bone)

2 Comentários

  1. Oi Lu, eu gosto de história em que vilões e heróis se mesclam, uma pena não ter sido um volume tão bom!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante


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  2. Oi, Lu! Tudo bom?
    É uma pena que ela tenha corrido por pressão da editora, porque o POTENCIAL desses livros se perde muito na pressa. Senti muito isso com o primeiro e agora tô mais HMMMMM pra ler o segundo.
    De personagens, eu só me importo de verdade com as gurias, o resto quero distância. Não sei se o ranço com o Inan vai passar, vamos ver.

    Beijos, Nizz.
    www.queriaestarlendo.com.br

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